A segunda mesa de debates tratou dos impactos das novas tecnologias no mundo do trabalho e contou com palestras da psicóloga Rosane Granzotto, conselheira do Conselho Federal de Psicologia; do professor Perci Coelho, da Universidade de Brasília; e do juiz Luiz Antonio Colussi, vice-presidente da Anamatra.
Rosane foi a primeira a falar e trouxe uma questão bastante prática, que é a forma como o Conselho Federal de Psicologia tem lidado com as tecnologias que afetam a profissão de psicólogo. “A primeira resolução que tratou do assunto foi de 1995, proibindo os psicólogos de atender por telefone. Isso precisou ser reformulado por causa dos avanços da tecnologia”.
Rosane também tratou da exploração e precarização do trabalho do psicólogo por meio das plataformas digitais, as quais ficavam com uma parte expressiva dos ganhos. O esforço do Conselho para produzir uma resolução adequada envolveu estudos sobre a intermediação e o vínculo entre o profissional e o paciente. A autarquia passou a realizar um cadastro de profissionais que atendem online, e uma Comissão verifica se o atendimento obedece ao código de ética da profissão e preserva os interesses do usuário do serviço.
Finalmente, com o avanço das tecnologias, hoje vários profissionais de psicologia atendem por meio de ferramentas como o skype ou chamadas de vídeo. “As resoluções precisam sempre ser atualizadas. Não adianta pensarmos que faremos uma resolução definitiva, elas sempre precisarão ser atualizadas porque a tecnologia nos dará novas ferramentas”, finalizou Rosane.
O professor Perci Coelho discutiu a aparência e a essência da tecnologia a partir da teoria da revolução informacional, que ganha força na França a partir de 1995. “Se não entendermos que o trabalho enfrenta algo mais radical do que a revolução industrial, ficaremos discutindo apenas a questão dos meios”, colocou Perci.
O professor caracterizou a tecnologia como uma lógica histórica motivada pela acumulação capitalista. “A máquina, a partir dos anos 70, adquire uma nova configuração para extrair valor do trabalho”, afirmou Perci. “Não é só uma revolução do computador. É como a informação ganha centralidade no processo de acumulação capitalista”.
Perci também falou sobre a uberização e disse que os profissionais de serviços são os mais afetados pela imersão forçada no mundo digital. “A revolução informacional passou da especialização à polifuncionalidade. O que antes era rígido agora é organizado em rede. Ela abre oportunidades de trabalho, mas ilude com uma suposta autonomia quanto à identidade de classe”. E finalizou dizendo que “O que hoje está prestes a desaparecer não é a classe operária, mas a divisão entre os colarinhos azuis e os colarinhos brancos”.
Luiz Antonio Colussi foi o último a falar, e começou informando que ele é juiz da 30ª vara do trabalho, que é especializada em acidentes de trabalho. “Nós vamos percebendo o adoecimento dos trabalhadores com a precarização do trabalho”, aponta Colussi. O juiz também falou sobre sua dissertação de mestrado, apresentada há dez anos: “Já naquele tempo me incomodava o afastamento entre a justiça do trabalho e os direitos dos trabalhadores”.
Colussi também afirmou que “as grandes promessas da modernidade permanecem incumpridas ou trouxeram efeitos perversos”. Ao citar o teletrabalho, afirmou que “sempre existiu, mas hoje há um controle total e uma cobrança excessiva sobre o trabalhador, que não se desconecta. Na França já é reconhecido o direito à desconexão. Mas você consegue se desconectar do trabalho?”, questionou.
Ao falar sobre o Uber, mencionou a existência de profissionais trabalhando de 17 a 20 horas. “Os aplicativos são uma realidade. Como podemos contratar estes trabalhadores e protegê-los da precarização? Precisamos da justiça do trabalho, que já há algum tempo passa por dificuldades”, argumentou o juiz. “A robótica e a automação abrem novos campos de trabalho, mas os que perderão seus empregos são os menos preparados para ocupar as novas vagas. E as novas habilidades exigidas poderão estar superadas em breve”.
O vídeo do Seminário encontra-se na página do Cofecon no facebook.
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